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Desigualdade social no marca-texto durante a pandemia

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Historicamente, a desigualdade social sempre foi um traço marcante da sociedade brasileira, uma víscera exposta que, costumeiramente, combatemos de forma paliativa, progredimos com lentidão nesse aspecto. O tema é, inclusive, uma característica estrutural do nosso país, alternando em alguns momentos mais aprofundado e, em outros, mais "apaziguado".

Um país com dimensões continentais traz consigo obstáculos ainda maiores ao enfrentamento dessa temática e a realidade que nos cerca é que a pandemia trouxe consigo distintos tipos de vítimas: aquelas que contraíram a doença, aquelas que infelizmente sucumbiram, aquelas que vivem o terrível luto, e por fim, trouxe ainda, incontáveis vítimas sociais.

Estamos falando daqueles que, agora, estão desempregados, das empresas que não conseguiram se manter, dos trabalhadores informais e especialmente das crianças.

Uma das maiores mazelas da nossa sociedade sempre foi a educação, contudo, trata-se de investimento a longo prazo e nossos políticos não se mostram dispostos a realizar investimentos que não resultem em votos de forma imediata.

Uma educação basilar de qualidade garante uma sociedade mais igualitária em oportunidade, garante ainda futuras gerações cada vez menos dependentes de assistencialismo governamental.

O primeiro enfrentamento a ser realizado é a evasão escolar. Em 1980, 40% da população brasileira entre 7 e 14 anos estava fora da escola. Já em 2017, 99,2% das crianças e adolescentes nessa mesma faixa etária frequentavam a escola.

As piores vítimas sociais da pandemia são, inevitavelmente, as crianças em situação de vulnerabilidade, aquelas que antes da pandemia dependiam de escola para alimentar-se de forma satisfatória pelo menos uma vez ao dia.

A escola para essas crianças não é somente uma necessidade imediata para garantir alimento, mas é a melhor chance que elas podem ter de um futuro promissor.

Atualmente, estima-se que cerca de 35% dos alunos das escolas públicas jamais assistiram a uma única aula on-line durante a pandemia ou tiveram acesso a qualquer tipo de material didático, ainda, cerca de 15% dos alunos se quer realizou uma rematrícula para o ano de 2021.

Essas crianças não estão seguras em seu lar fazendo isolamento social, a realidade é que muitas delas, estão agora, voltando ao trabalho infantil, se tornando fonte de renda para as famílias e esse ciclo necessita de diversos anos para ser quebrado.

Debatemos muito o retorno das aulas para o ensino particular, contudo essas crianças não deixaram de ter aula, não perderam o contato com o ensino, tão pouco abandonaram a escola.

Necessitamos de forma urgente pressionar, cobrar e, especialmente, não esquecer das nossas crianças das escolas públicas. Elas merecem uma oportunidade na vida!

De mesmo modo, não podemos esquecer de continuarmos nos mobilizando e pressionando pela vacina, especialmente aos professores. Esse é o mínimo de dignidade que um professor merece, é ser vacinado para poder trabalhar com segurança.

A educação é e sempre será essencial, precisamos é que ela tenha esse status na realidade, precisamos de políticas públicas que atendam mudanças estruturais com investimento e planejamento.

Olhar ao nosso redor nunca foi tão essencial, mas precisamos de um olhar de empatia. As nossas dores precisam ser coletivas e as lutas também.

Texto: Juliane Müller Korb
Advogada

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